Conversa entre amigos

MALHAÇÃO INTELECTUAL
 
CITIUS ALTIUS FORTIUS
 
“mais rápido  mais alto  mais forte
·        lema dos jogos olímpicos
 
Na prática esportiva, é impossível conceber o sucesso de um atleta dissociado de uma adequada preparação física.
A despeito de suas virtudes individuais, sem uma equilibrada e metódica preparação, não há como assegurar o êxito do atleta, qualquer que seja a modalidade a que ele se dedique.
Estando física e mentalmente preparado para os esforços que sua atividade exigir, ficará em excelentes condições de competitividade.
Numa partida de futebol, por exemplo, ninguém vai solicitar a um jogador que faça um alongamento muscular, porém ao tê-lo feito, numa sessão de preparo físico, habilitou-se para os lances em que tal esforço seja imprescindível: uma decisiva jogada de defesa ou uma disputa pela posse da bola rumo ao gol.
Com a vida intelectual se passa o mesmo.
Os acidentes morfossintáticos, a análise, o estudo e a ampliação de vocabulário, a produção de texto, a solução de problemas de matemática, física ou química, os conhecimentos de biologia, geografia, história e artes, uma vez exercitados com a devida intensidade e exigidos como pré-requisitos para a continuidade dos estudos, promovem o alongamento cerebral de que o estudante precisa, para sabê-los utilizar como ferramentas de sobrevivência.
Essas são, com efeito, as verdadeiras habilidades de que deveriam falar os tecnocratas da educação.
 

NATURA NON FACIT SALTUM

 

“a natureza não dá salto”

 
A aquisição de conhecimento é um processo lento, contínuo, mas tem de ser obtida na forma de esforço para estudar, como se exige de um atleta que ele corra 100 metros em menos de 10 segundos.
É o que poderíamos chamar de malhação mental.
Tempo houve em que alguns estudantes só “malhavam” de olho na média 5. Mas malhavam. Por menos dedicados que fossem, perseguiam o mínimo exigido.
Saber a tabuada, exercitar operações aritméticas e algébricas, saber os nomes de estados, continentes, países e capitais, as datas cívicas nacionais, história e geografia gerais, a língua pátria e línguas estrangeiras, saber o nome dos órgãos do corpo humano, das peças do esqueleto, o símbolo químico dos elementos, demonstrar teoremas matemáticos, saber as propriedades da matéria, os fenômenos físicos, os grandes movimentos artísticos e filosóficos – tudo isso forma o arcabouço, o alicerce, o recheio intelectual do cidadão.
 

Ó TEMPORA Ó MORES

 

 “Ó tempos ó costumes”

 
Na escola , há uma perversa combinação de indolência, indisciplina e leniência, de tal sorte que muito, pouco ou nada sabendo, o deseducando tem a certeza do recebimento do certificado de conclusão. De quê? Difícil. Como se pode dar como concluída uma obra inconclusa?
O mérito, a primazia do saber, o privilégio do conhecimento, tudo foi atirado ao cesto de lixo da sala de aula, sob a égide de pichadores e de aprendizes negligentes.
Tudo rigorosamente de acordo com a LDB, sob o complacente olhar da Família.
 

FINIS CORONAT OPUS

 
“o final é o coroamento da obra”
 
Lamentavelmente, por não ter sido submetida à malhação cerebral, nossa clientela estudantil chega ao final dos 11 anos de escolaridade com estreita visão periférica e seus conhecimentos com a profundidade de uma poça d’água.
São casos – a maioria irreversíveis – de raquitismo intelectual.
E depois ficamos lamentando sua incapacidade de associar idéias, de as expor com propriedade, de assumir um discurso coerente...
E os encaminhamos para as inúteis sessões de recuperação e reforço, que nada recuperam, e só reforçam a idéia de que estamos na contramão do saber.
Como diria o saudoso senador Roberto Campos, é o mesmo que estimular anões para a prática de basquete, e mandá-los competir na NBA.
E o pior é que esse processo de emburrecimento vai permeando todo o espectro da educação, do ensino fundamental à universidade, num círculo vicioso tão deletério quanto as pragas que assolam as lavouras.
Se é assim que queremos o crescimento do Brasil, com menos desigualdades, com paz e justiça social, nossas possibilidades de sucesso ficam seriamente ameaçadas e a nau sem rumo da “educação” segue navegando à deriva, fazendo água...
Haja fortificante e ginástica para tanta atrofia intelectual!
 
 Marco Antônio
 outono    2003 
 

Um comentário:

  1. O texto deixa claro os anseios de um professor que não é contra as inovações na forma de ensinar. Apenas discorda da falta de conteúdos, e da promoção serial garantida,
    mascarada de promoção continuada. É certo que a cada dia devemos pensar novas formas de dar aulas, já que a cada dia temos novos públicos, porém, abandonar os conteúdos não é uma boa ideia.

    Professor Marcos Antônio, gestor do ambiente virtual de aprendizado saber exatas.

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